domingo, 15 de janeiro de 2012

Com Michel Teló e BBB 12 a Cultura Acaba no Paredão.


BBB 12 e Michel Teló
AI, SE EU TE PEGO
A hegemonia dos mercadores de ilusões é o nosso grande problema: o Brasil deveria discutir temas de mais importância. A velha mídia monopolista nos impõe coisas desimportantes. E isso não é novidade. É o conhecido ‘panis et circenses’ com que a Roma Antiga brindava o seu povo. A única diferença é que os zumbis-gladiadores de hoje não derramam uma gota de sangue sequer. Apenas sugam cérebros.
TELÓ, BBB E CONCEITOS DE CULTURA
por Sylvio Micelli *
Os assuntos mais discutidos neste início de 2012, ao menos nas redes sociais (que hoje pautam muita coisa), giram sobre a capa da revista semanal Época com o cantor(?) Michel Teló e sobre o início de mais uma edição do Big Brother Brasil transmitido pela Rede Globo de Televisão.
Por sinal, apenas para constar, Época e Globo pertencem à mesma organização.
O paranaense Teló foi parar na capa da publicação por ser o “cantor, compositor, multiinstrumentista” que mais tocou nas rádios em 2011. Sua música(?) “Ai, Se Eu Te Pego” vendeu horrores. Ele fez centenas de shows, ganhou um bom dinheiro e a segunda revista semanal mais vendida do Brasil achou por bem colocá-lo na primeira capa do ano.
Mais que isso: destinou 12 páginas, isso mesmo, 12 longas páginas, e o apresentou como a tradução de “valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”.
Teló está na dele. Não tem culpa nenhuma.
O Big Brother Brasil, por sua vez, completa 10 anos de transmissão e chega à sua 12ª edição.
A temática é mesma de sempre, em que pese a produção do programa tentar dar uma reciclada. Trancafia pessoas dentro de uma casa. Elas deverão viver e conviver com as diferenças ao longo das semanas. O jogo vai se desenrolando. As máscaras caem e o mais forte, ou o mais popular, ou o que der mais retorno de mídia, sagra-se o campeão. Tem gente que fez carreira artística e até política no jogo.
Para o paredão
Vamos, enfim, aos fatos.
Inicialmente, a sinuca de bico. Porque se elevarmos o Teló e o BBB à condição de “cultura” iremos contra tudo aquilo que supomos ser cultura e estaremos a nivelar, por baixo, o que efetivamente seja cultura.
Se eu chamarmos o músico e a atração global de subcultura, os patrulheiros de plantão (e eles sempre estão presentes) vão nos chamar de preconceituosos, quiçá burgueses, e de desrespeitar a cultura, que eles assim entendem, diversificada e multifacetada do meu país.
Então sobram duas óticas: Teló e BBB são estratégias de marketing para ganhar dinheiro. E muito dinheiro. Simples assim.
No caso do cantor, você pega um rapaz do interior do Paraná, jovem e simpático, que cai no gosto de jovens iguais a ele. Cria uma música(?) de pouquíssimos versos e letra paupérrima, põe em cima uma melodia pegajosa e usa de todos os métodos para que isso vire um hit. O resultado é infalível.
Não é a primeira vez que acontece e também (infelizmente) não será a última. O Brasil passará por Teló, como já passou pelo Tchan, Créu, dancinha da garrafa e tantas coisas efêmeras que depois apodrecem nos sebos da vida.
O BBB é a catarse humana em versão compacta
Da mesma forma que se coloca uma dúzia ou mais pessoas dentro de uma casa, para que se suportem – mas no fundo sendo todos inimigos e buscando o prêmio ou fama (ou ambos) – também em nosso dia-a-dia lidamos com diversas pessoas que adoraríamos mandar para o paredão (e vice-versa), mas que a santa hipocrisia social nos (os) impede.
Três questões
Há, ainda, uma outra ótica. Essa muito mais perigosa e é dela que devemos (ou deveríamos) nos reguardar.
Teló e BBB são braços fortes da grande mídia, em busca da hegemonia na comunicação, como nos ensina o mestre Vito Giannotti do Núcleo Piratininga de Comunicação.
Quando a Época decreta que Teló traduz “valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”, ela quer dar hegemonia ao Brasil. Dizer que somos todos felizes como os smurfs e que a música de Teló, que faz sucesso com a doméstica e com o empresário, acaba por aproximar todos nós.
Olha que lindo! Um país sem preconceitos, onde todos somos rigorosamente iguais.
Por outro lado, o BBB, que (lembrando) pertence ao mesmo grupo de Época, mostra que, sob confinamento, vence o mais forte ou o que cai no gosto da população. Dessa mesma população hegemônica que discutirá nas próximas semanas quem deve ir para o paredão e ficará a bisbilhotar se um novo casal é feito na casa (e, certamente, dois são desfeitos fora).
Então, todas as terças à noite, o mercador de ilusões Pedro Bial, de forma histriônica, unirá um país de norte a sul porque todos estarão (assim eles querem que seja) interessados em descobrir quem se dará mal naquela semana.
Essa hegemonia é o nosso grande problema: o Brasil deveria buscar a discussão de assuntos de mais importância.
Claro que devemos ter lazer. Claro que o lúdico, mesmo de gosto duvidoso, é importante. E aqui não reside nenhum tipo de preconceito. É que a hegemonia faz com que boa parte dos cidadãos acredite que tratar de temas polêmicos não lhes pertence. Mas pertence, sim.
Só nesta semana três podem ser destacados: (1) as questões que envolvem o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a tentativa de abertura do Poder Judiciário; (2) as chuvas que voltam sempre em janeiro (a natureza é perfeita) e o pouco que se fez desde a desgraça do ano anterior; e (3) as eleições de 2012 que chegam logo e há muito que mudar.
Conceitos de cultura
Enquanto deveríamos gastar nosso tempo com isso — e não se trata de discussão de elites — a mídia hegemônica nos impõe coisas “desimportantes”. E isso também não é novidade. É o “velho e bom” panis et circenses com que a Roma Antiga brindava seu povo. A única diferença é que os gladiadores de hoje não derramam uma gota de sangue sequer.
Ao final de tudo, mantemos a esperança de que dias melhores virão, acreditando que o Brasil ainda é novo e devemos passar por tudo isso para que possamos amadurecer e chegar, um dia, aos conceitos de cultura de países nem tão longínquos daqui. Como a Argentina ou o Chile.
Já estaria de bom tamanho.

* No Observatório da Imprensa

5 comentários:

  1. Eis aí um dos grandes resposáveis pelo analfabetismo funcional, pra que fazer esforço para entender a letra de uma bela canção se apenas um refrão é mais facil, por que tentar entender uma notícia se ver as sacanagens no BBB não precisa entender de nada. Ler uma página de jornal ou um livro pode dar dor de cabeça, enquantobasta ver as carnes penduradas no açougue BBB e cantar "ai se te pego, ai,ai,ai". Essa é a nossa mídia educativa!
    Abração M@riv@n, amigão!!!

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  2. Ótimo artigo, alguns dos pontos de vista da crítica eu não tinha sequer imaginado. A futilidade é tanta e a coerção social (um termo que eu uso com significado semelhante a hegemonia que você cita) é tão forte que a gente acaba ficando com o pensamento até meio nublado pra falar alguma coisa...
    Mas você foi claríssimo, gostei muito.
    Valeu

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  3. Ai pessoal, uma emissora de televisão que tem a capacidade de , em apenas algunms segundos, infleuênciar milhôes de pessoas, não deve ser algo que se considere como patrimônio de uma familia ou de um grupo de pessoas, assim como seria um computador ou um sofá, que posso fazer o que quiser. Ninguém pode ser dono da opinião de Milhões de pessoas.Seu "dono" age como quer defendendo seus interesses pessoais, não de uma população.

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  4. è assim que vamos reunir milhões de pessoas,quando é por uma causa nobre.quando as emissoras de comunicação estão dispostas a população.

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  5. Excelente texto e oportuno, O que se vê, é o que se passa em uma casa dos horrores e sim o que faz milhares de pessoas a esquecer suas vidas em pról da vida alheia, e maior ainda como largar a atenção ao que interessa posssa, o que deve-se fazer para o próximo que passa por problemas serios. Ao que tange a poderosa emissora em questão, minha pergunta:
    Por que esse programa começa na época das chuvas e deslizamentos?
    Ora, a resposta é simples:
    esconder as mazelas, os graves problemas sociais e politicos. Sempre envolvida com a politicagem brasilis.
    VOTO BRANCO OU NULO NELLES!!
    Abraço.

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